Morte
A morte não é privilégio de alguns
Mas é uma certeza para todos
É a nossa maior paranóia
Nosso medo desde cedo
E, também, um tanto, desejo
Um chá revelação
Da nossa mais profunda covardia.
Covarde é o que somos
Nos escondendo na própria vã esperança
De que ela não nos encontre
O tempo vai passando
E todas as tentativas se esvaem.
Covarde que somos, tememos esse encontro marcado
O inadiável encontro com a morte
Nosso bem supremo
Nosso justo juíz.
Sem tentativas de fugas
Sem adiamento
Sem hábeas corpus
Sem novo agendamento.
No dia e hora marcados
Lá estará ela a nos esperar.
Não existem acordos para adiar esse encontro
Covardes!
Coloquem-se em seus devidos lugares
Vossa vitalidade vai se esvaindo todos os dias
Em nada, suas riquezas lhes serão úteis.
Indignos desta vida, somos todos nós
Não existe, entre nós, nenhum inocente
Somos todos criminosos
Perdemos a conexão com o planeta
Com a própria vida que emana dessa simbiose.
O não como objetivo de vida
Um bem que faço para mim
Despir-me do que me impede
Ao que me pedem
Que eu possa, solenemente, dizer não.
Para seguir feliz na vida
Com a minha consciência leve
Por ter conseguido superar
A minha incapacidade de dizer não.
Em meu novo ciclo
O desejo foi reprimido pelo sim autoritário
Sim, para fazer algo que não queria fazer
Para tão somente viver das incoerentes aparências.
Minha emoção vivia em frangalhos
Dominado pela educação do século XIX
Sim, mesmo que não quisesse
Sim, para não ser grosseiro.
Longe de ser repetitivo
Dizer "sim" pra tudo, não nos torna melhores
Um "sim" pode ser, por demais, desgastante.
O meu sim, de agora em diante
Será pautado pela reflexão
Para que a resposta seja sempre um "não" verdadeiro.
Carlos de Campos
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