Retroceder já não podemos mais
Em tempos de crise política, o melhor a se fazer é exatamente nada. Não existe nada que possamos fazer neste momento da nossa história. A crise política é mais grave do que aparenta e vai além dos bastidores do poder. Os indivíduos que compõem esta sociedade e suas instituições enfrentam sua pior crise de identidade, ética e moral. Estamos vivendo em uma sociedade em pleno colapso.
A crise política nasce de uma sociedade que estava — e ainda está — abandonada. Ao longo dos anos, ela recebeu apenas migalhas sobre a mesa e, calada, teve que continuar, enquanto observava a classe política engordar à custa dos juros e do dinheiro público. Os indivíduos dessa sociedade, cansados, colapsaram; os que não colapsaram deram de ombros ou se juntaram a eles.
A sociedade está há muito tempo abandonada. Mesmo que quisesse, não conseguiria mudar esse roteiro. Estamos presos em um ciclo vicioso, no qual as nossas melhores escolhas acabam sendo sempre as mais destrutivas. Neste momento, o colapso social parece ser a nossa melhor escolha.
Lutar contra isso é uma luta inútil. É lutar contra o nosso próprio sistema de autodestruição individual e social; é lutar contra a nossa mentalidade de, em liberdade, fazermos as escolhas erradas. Não é possível, de uma hora para outra, transformar indivíduos “doentes” por um ambiente social salubre que, há anos, vem sendo ignorado, sem qualquer investimento relevante. A sociedade escolheu e chancelou, por meio dos seus políticos eleitos, que não ter uma educação que humanize as pessoas é o nosso melhor investimento. Essa foi a escolha dos nossos avós, dos nossos pais — e é também a nossa, ao perpetuar uma sociedade que nos faz viver em constante frangalhos físico, mental, emocional e financeiro.
Estamos cegos, caminhando sobre um precipício, equilibrando-nos em uma corda e carregando, em nossos braços, uma ogiva nuclear — e fazemos isso sem nos darmos conta do perigo. Avançamos e não temos como retornar.
Ir adiante é preciso, tentando nos proteger enquanto atravessamos essa dificuldade extrema. É uma mudança radical que se faz necessária. E, até que essa compreensão nos tome pelas mãos e nos coloque novamente no caminho do juízo, seguimos sobrevivendo como podemos.
Carlos de Campos
