Educar com a própria vida é um ato de amor
O caos na sociedade é fundamental para fomentar o ódio e produzir instabilidade política e econômica. Normalmente, nessas situações, a população é usada como “massa de manobra”.
O que ninguém diz é que existe uma pequena parcela privilegiada da sociedade que lucra com uma sociedade em constante convulsão.
“Massa de manobra” é um termo que se usa para dizer, de maneira pejorativa, que alguns indivíduos que compõem a sociedade não são capazes de tomar suas próprias decisões e acabam sendo instrumentalizados por grupos políticos, ideológicos ou midiáticos.
O que precisamos entender é que existe, dentro de uma sociedade, diferentes grupos. E que esses grupos são compostos por pessoas — pessoas que carregam dentro de si uma ideologia, uma paixão, um desejo; alguns nobres, outros um tanto obscuros.
O que quero dizer aqui é que as pessoas são essencialmente feitas de escolhas. Escolhas que constantemente estão se confrontando. Em uma sociedade plural, em que se respeita a liberdade de se expressar, de ir e vir e de ser quem você deseja ser, isso é totalmente aceitável.
O que falta à sociedade brasileira para que essas escolhas de ideias divergentes se mantenham no ambiente do respeito? Como indivíduos, o que podemos fazer em nossa realidade cotidiana para que essa mentalidade bélica, em um diálogo saudável, encontre pontos comuns?
Não existe uma receita pronta. Não existem maneiras de conciliar tudo e todos ao mesmo tempo. Não existe uma sociedade que possibilite essa tal paz constante e permanente. Não somos santos nem demônios; somos apenas pessoas tentando um lugar ao sol.
O que, então, é fundamental e eficaz para que, pelo menos, tenhamos uma sociedade com indivíduos emocionalmente maduros e que sejam capazes de debater ideias e se manter no campo das ideias e do respeito mútuo?
Educar — mas não educar somente com informações e formações. Conteúdos que, muitas vezes, entram por um ouvido e saem pelo outro, que não encontram ressonância no coração das pessoas por não terem ressonância com a realidade.
O que é essencial em toda educação de excelência é o educar a partir do próprio exemplo. As pessoas, de modo geral, têm dificuldade de se colocar como exemplo; não se sentem confortáveis com esse método por não acreditarem que sua vida pode acrescentar à vida do outro ou que a educação de qualidade está atrelada somente a comportamentos impecáveis.
Educar com a própria vida é usar tudo o que você tem e é como matéria-prima. Educar com a mentalidade ecológica, sabendo que tudo em nossa vida está em um constante processo de reciclagem e que sempre estamos em movimento.
Ninguém nunca estará pronto, acabado e perfeito para ser capaz de educar o outro. E, se formos esperar essa tal perfeição, nunca seremos, de fato, um verdadeiro agente de transformação social, por meio da educação — esteja onde você estiver. Educar o outro é também uma autoeducação.
O que a sociedade precisa hoje é de pessoas que se sintam educadoras, que, com seu exemplo, iluminem os caminhos das massas para que essa massa rígida passe a ser leve e macia. Educar é acrescentar à sociedade o fermento da sobriedade, da leveza e da paz.
No fundo, no fundo, todos nós buscamos a paz em nossos corações, em nossas vidas e em nossa sociedade; buscamos ser e experimentar a reconciliação conosco e com o outro. Que hoje, em sua vida, seja o tempo de reconciliação e pacificação.
O mundo e nossa vida estão intrinsecamente conectados. O que o mundo sofre com ódio é porque ainda estamos armados de ódio. O mundo só reverbera aquilo que somos e quem somos.
Janela aberta para novas perspectivas e de fôlego renovado para continuarmos o que sempre será necessário e fundamental: educar com a própria vida — em nossa casa e em nossos convívios sociais. Educar com a própria vida para que vidas sejam melhoradas e transformadas em sua essência.
Carlos de Campos
