Existe um mundo que não foi feito para nós


Existe um mundo que não foi feito para nós

Deitado,
longe de tudo,
existe uma decisão
dura, que perdura
na nossa triste condição.

Quem sou eu?

Eu, a solidão em pessoa,
o peso da eterna injustiça,
o diamante bruto rejeitado,
a decisão mais indecisa,
o desejo de pensar grande,
mais longe do que meus olhos possam tocar.

Eu sou o mar de rosas,
as rosas putrefatas,
o delírio de um mundo em declínio.

Este é o sonhador que acordou.
Sinto muito.

O elemento central da vida.
Homem de futuro duvidoso,
integrado às decisões
falsas e ridículas.

Quem sou eu?

A humanidade esquecida.
O que ouve, vê e sente.
O que nada pode fazer
além de saber
que não existe mais futuro,
que o futuro se esvaiu
pelas decisões mal decididas.

Por existir um ecossistema
corrupto,
excludente,
promotor de desvios públicos.

E onde eu estou nesse ecossistema?

Diariamente,
estou sendo calado,
desestimulado,
fadado a concluir
que eu sou o problema.
Dia por dia,
caímos e levantamos.
E esse é o problema.

O problema é se levantar.
É resistir.
O problema é continuar.

Para nós, não existe espaço.
Não existe futuro.
O que queremos não existe para nós.

Em nome da decisão,
existir é resistir às injustiças.
É adentrar no submundo da exclusão
e, daí, arrancar o poder à força,
forçando nas ruas as ilusões,
o desespero escondido
na forma de vícios.

Quem sou eu?

O pilantra inconsequente.
Os horrores de um dia chuvoso.
Sua eterna amada
que, de joelhos,
suplica por sua benevolência.

Covarde.
Homicida.

Olho e vejo.
Vejo a eternidade
ferida por seus crimes,
infidelidades contraídas.
Vejo olhares sangrentos
que, de quatro, são subjugados,
maltratados,
esculachados.

Eterna é essa glória
que desonra toda a nossa história.

Deitado, me encontro.
Sob a minha cabeça,
existem lembranças.
Escondidas estão essas tristes lembranças
que me fazem esquecer
que amanhã é outro dia
do mesmo modelo corrupto de subsistência
que existe somente para nos frustrar.

É mais um dia.
Um dia perdido.
Promíscuo.
Que temos de enfrentar.

Carlos de Campos
Foto por Tara Winstead em Pexels.com

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