Na beleza encontro a minha realidade
Indo para São Paulo, me deparei com você, toda a beleza encarnada em uma só pessoa, em um só lugar, em uma só personalidade. Tudo o que eu conseguia fazer era ficar ali, admirando. Naquele ônibus, tudo passou a ser mágico.
João era um amigo muito próximo. Ao perceber que toda a minha concentração estava naquela mulher, João me cutucou e sugeriu:
- Vai só ficar olhando ou vai se levantar para falar com ela?
Não sei por que, mas me faltava coragem.
- Daqui a pouco eu vou – respondi a João, sem tirar os olhos dela.
Pensava no que falar, como me comportar e como poderia disfarçar minha timidez quando fosse falar com ela. A timidez tinha tomado conta de todo o meu ser naquela altura. Não queria ser mal interpretado.
Tudo naquele momento me parecia difícil de executar. Não entendia o porquê, mas só me sentia inferior diante dela, diante da beleza que a personificava. Por que a considerei bela demais para mim? Como eu poderia ter evitado essa conclusão?
Quando resolvi me levantar para ir até ela, meu despertador começou a tocar. Precisei, então, me levantar para ir trabalhar.
No final das contas, a minha vida, a minha realidade é essa: durante o dia, trabalhar tanto que sou incapaz de identificar o rosto de alguém; à noite, o que me resta a fazer é sonhar e, no sonho, desejar ver, tocar, sentir o belo que existe para ser vivido e que não consigo.
Carlos de Campos
