“Vítima de uma sociedade doentia” é uma composição que traduz, com intensidade e sobriedade, o colapso existencial do sujeito moderno diante de uma realidade opressora.
Vítima de uma sociedade doentia
O elevador quebrou. Como sair daqui? Na aparência, transbordo calma, mas me encontro transtornado.
O elevador parou entre o oitavo e o décimo quinto andar. Estou sozinho, angustiado e sem comunicação. Morte iminente?
Na iminência de uma vida em risco, uma vida solitária, destemida, até ser surpreendida.
Cabe não estar perto. O destino está no fio da navalha, destino ao alcance da vida, de uma vida triste.
O elevador me sufoca com suas mãos metálicas, envolvendo o meu pescoço, enquanto definha a minha alma.
Desce a minha alma, engolida pelo fosso da existência, existência de horrores, pela minha própria falta de sorte.
O elevador parado no quarto andar. Destino concentrado na alma que se foi. A vida vai dando os seus últimos suspiros no fio de uma navalha afiadíssima.
O elevador chega ao seu destino — um destino incerto, de uma caminhada vacilante, destino destemido.
E a minha alma? Quando retornará a esse pobre corpo? Ao corpo que mais se parece a escombros, que caminha fingindo ser feliz.
Elevador parado no décimo andar: um corpo fétido de morte, uma alma decaída no fosso da negligência, em seu último suspiro.
No entardecer da vida seguiremos confiantes. Os desafios são muitos e certamente assustadores, mas é preciso continuar e confiar que nada deve ser motivo de desânimo. Sim, eu sei que é difícil pensar assim.
Sei também que só temos duas opções: uma é desistir. Querem nos convencer de que precisamos desistir e continuar de cabeça baixa diante de quem só nos explora e depois nos descarta. A segunda opção é resistir, insistir, mesmo que tudo e todos tentem nos impedir, porque é exatamente isso que eles querem de nós: que desistamos para que, desistindo, continuem nos humilhando.
Vivemos em um contexto de guerra permanente, uma guerra ideológica em que um lado deseja nos alertar de que precisamos nos valorizar, buscar juntos a justiça social e fazer da vida nossa principal meta.
Que o trabalho seja um dos tantos instrumentos para alcançar o objetivo de ser plenamente feliz, e não um instrumento de trabalho forçado. Vamos em busca do nosso ideal, que é viver e ser feliz. Que o trabalho seja o meio pelo qual produzimos o nosso sustento, e não uma arma de opressão que nos tira tudo: o tempo, a esperança, a mão de obra mal remunerada, que nos destrói por completo para que possamos produzir e gerar a riqueza alheia.
O mundo precisa buscar a justiça social e a solidariedade entre as pessoas. Não existirá paz mundial enquanto houver uma pessoa sem direitos, com seus direitos básicos sendo violados a todo momento.
Precisamos nos livrar da dinâmica vigente que nos faz explorar uns aos outros e que nos trouxe a toda essa carnificina. Tenho a triste impressão de que só pioramos, quando deveríamos estar muito melhor em todos os aspectos humanos e tecnológicos. É preciso superar as nossas diferenças e o nosso egoísmo contundente se quisermos ir a algum lugar melhor.